HORROR
Escrito por: Guilherme A. Soares
Mikael cresceu ouvindo as histórias fantasmagóricas de sua vó. Com o passar dos anos aquele medo e pavor das histórias se perderam no imenso buraco negro da consciência, mas o medo do escuro sempre esteve presente.
O tempo passou e sua avó faleceu, tadinha. Estava velha e acabada, nem falava mais. Mikael superou o luto, já sabia que ela o deixaria e seguiu sua vida, terminou os estudos, se formou e até se casou. Tudo uma maravilha, mas o medo do escuro permanecia.
Então certa noite sozinho em casa, trabalhando em mais um de seus geniais livros de fantasia inspirados nos contos de sua avó, um blecaute assolou todo o bairro, deixando todos no escuro. Mikael se desesperou e pegou a lanterna na gaveta da mesinha, acendeu-a e deu de cara com sua avó, ela mesma, em carne e osso, mais morta do que viva. Mikael, claro, se assustou e fez o sinal da cruz.
- Que tolinho. Disse ela.
Mikael ainda assustado apontava a luz da lanterna na cara dela como se isso a afastasse. Bem, não funcionava. Ela se aproximava, e se aproximava mais e mais, enquanto ele gritava, e gritava mais e mais. Até que ela parou na sua frente e disse - apaga a luz ou você vai me cegar. Não havia dúvidas era a sua avó.
Ele abaixou a luz lentamente sem tirar o olho da face pálida de sua vó, de fato ela parecia um defunto, mas aí estava o problema: Ela estava morta.
Das mãos dela uma luz surgiu em uma pequena esfera que encandeou todo o quarto, ela a aproximou dos olhos dele e disse; você não deveria espalhar segredos póstumos. Mikael, ele se arrepiou completamente e apenas balançou a cabeça negativamente evitando olhar o rosto de sua avó. E então ela continuou – achou que meras fantasias de uma velha poderiam ser meras fantasias apenas? Olhe para mim. Eu estou aqui!
Mikael olhou e lá estava mesmo sua vó, magricela, pálida, enverrugada, com olheiras e algo extremamente brilhante em suas mãos.
- Sabe o conto da bruxa nascida da floresta? Bem, aqui estou eu. Mikael olhou espantado, pois não imaginava que aquilo poderia ser real – sabe o conto do garoto descendente da magia? Bem, aí está você. Você é como eu, e deve a partir de agora escrever suas histórias, seguir em frente no seu próprio caminho e viver sua nova realidade. Minha era se encerrou, mas eu sempre estarei aqui com você. Se descubra, aja, cresça e se conheça. Você tem muitas histórias para contar.
Ele se levantou sorrindo e ainda estranhando toda a situação, juntou suas mãos às dela, e assim como ela a grande luz surgiu, iluminando todo o andar, até que com um piscar de olhos, tudo acabou, a energia voltou, a sua avó sumiu e ele se encontrou em pé olhando para o nada, mas lembrava bem do que ela dissera. Na mesma hora a luz se acendeu novamente em suas mãos, e com determinação ele arrumou as malas e decidiu voltar de onde viera, a casinha no campo afastada de todos, junto com sua família e esposa. Ele iria escrever sua nova história enquanto se descobria como o descendente da magia.
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